30 de out. de 2006




CÉU DE ÚLCERA

Estar sobre a terra,
sob um fecho de abóbada:

o céu aperta.

Por mais que me evole,
a água-de-luz me devolve.

Por mais que desafine,
engaveto os ossos na gordura.

Por mais que afine,
a carne, oca, sufoca.

Por mais que escave o ar,
minha cova se estreita,

estrela.

Sou pouco no fio do osso, porém:

Por mais que eu me reserve,
não sobro em mim.

Por mais que eu puxe o fio,
não termino minha descostura.

Por mais que eu me desgaste,
não me aparo ao desamparo.

Por mais que eu me tolhe,
ainda posso ser colhido.

Estar sob o sol,
uma só nuvem:

o céu sepulta.




Poema: Carlos Besen

http://naselva.com/besen/

Imagem: Leila Lopes



Escrito por Leila Andrade 6:11 AM

 


Carlos,
foi uma honra ter participado, água-pedra-luz, do seu caminho de poesia.
Sucesso imenso!

Leila Andrade 6:03 AM

 
26 de out. de 2006


Entendam: não é uma questão de ser melhor que este ou esta, é de ser diferente, de morar numa galáxia mais distante. Se a galáxia é mais brilhante, aí é outra história.
Simplesmente, porque há uma questão de formação que envolve sentido de vida, de passos, de atitudes. Não há inteligência que suprima a bondade, a luz interior, não há compulsão que ganhe do prazer infinito de tocar estrelas, espaço de tempo que te emociona tanto que a água corre feroz. Depende de amor maior. Quem já sentiu assim o sabe.
Não reconheço alguns passos, não é tão fácil digerir e seguir, mas é o melhor a fazer. Não se debater contra o Universo. Não olhar para trás, quando necessário. Conseguir ainda estender a mão se preciso for.
E necessariamente, preservar a luz acesa, junto a uma janela aberta para a noite. Sempre.


Escrito por Leila Andrade 7:47 AM

 
23 de out. de 2006




Foi este o sábado do poço profundo, não aquela breve melancolia dos dias comuns. Sinto o gosto de sangue na boca: ainda me espanto com desconsideração, insensibilidade, maldade.
Participo de olhos arregalados - confesso - deste carnaval sem música.
Percebam: o silêncio, o silêncio, o veneno, depois um grito para acordar a si mesmo.
Perigo de vida das esquinas tuas. As ruas lotadas do teu corpo.
Errei de endereço, experimentei, na carne, o desprezo.


Foi a ferida impaciente das palavras ou o mesmo erro (duplamente) escolhido. Por vezes não há opção clara, há uma intenção singular, verdadeira, misturada ao amor. Em troca: lições disfarçadas de nudez colorida. Ao alcance das mãos, a cena da loucura que te surpreende, te deixa mudo, nauseado, paralisado, mórbido. Mais tarde te permitirá ver a própria alma em sintonia com o que é sagrado. A própria bondade, o teu amor sério e vivo, inabalável.
Depois da dor, do pesadelo, da máscara que cai, uma leveza conquistada.
Leveza de pele, de corpo, de vida.


As melhores lições são estas do deserto árido ou do inferno vermelho em que você é capaz de pisar, na casa alheia, por puro convite aceito.
Não uso armas, justamente porque fui treinada para matar.



A imagem é do meu amigo fotógrafo Adelmo Santos - Exposição: Alma das Máscaras

http://www.flickr.com/photos/adelmosantos/65924779/in/set-1553435/

http://www.adelmosantos.com/#


Escrito por Leila Andrade 5:24 PM

 
22 de out. de 2006



Fantasia, fio fino que corta.
Como o metal de Ogum,
É aposta com a natureza.

Nunca houve um menino assim
Fora da tua imaginação.
E no entanto,
sangras a dor funda
de quem acorda para o pesadelo.

O rio corria para o abismo...

Agora é a foz. É o mar. É o fim.
O desejo alcançou o seu último porto.



Poema do meu amigo Héber Sales
http://www.rascunhoseacabados.blogspot.com/
O sentido é um rio que corre em cada um...

Escrito por Leila Andrade 10:39 AM

 
18 de out. de 2006


A alma dele era algo mais que palavras...
De perto, sede incontida, busca incessante. Mesmo quando perdida em beira de rio: desejos de mar. A sua pele, reparem, gritava tanto que o sol reclamava do calor. Era toda mistura de raiva e amor naquelas medidas desproporcionais.
Dizia cantar liberdade, sem preconceitos ou superficialidades.
Terminava por arrasar multidão, sem pestanejar. Do canto da sua casa, dos arredores de sua cidade, delirava, pleno de vícios modernos. Volúvel, sensual, descuidado. Vida intensa. Chuva forte no meio da madrugada. No fundo, certeza de bondade e máscaras.

Eu – apenas um segredo – nada mais.

Não sei de que material era feito o fio fino que corta:
carregava em suas mãos de menino, arma afiada e veloz.
Quando senti o sangue escorrer, já era tarde, pingava sal, sangue e suor. Extensa a dor. Fiquei branca, raiz sendo cortada, uma tempestade me levando. Do barco, do alto rio, vi seu olhar diminuto desaparecendo, desconhecido, nem mais olhava em minha direção. São tantas as outras. Infinitas as outras.

Enganei Caronte, o barqueiro de almas, desci na margem mais próxima.
Caminho, lentamente, de volta ao mar da minha cidade azul.

Ouço uma música:
“Beira rio, beira rio, beira mar: o que se ganha de Ogum só Ogum pode tirar”

Escrito por Leila Andrade 9:13 AM

 
17 de out. de 2006

Imagem de Alexandre Fonseca

Não posso deixar de dizer:
este amigo talentoso fez um post em minha homenagem:

http://alexview.fotoblog.uol.com.br/photo20061017131945.html
Alexandre,
você me salva com sua amizade linda.
Obrigada.

Tem post novo aqui
Sem chances:
www.focando.jor.br


Escrito por Leila Andrade 4:02 PM

 
15 de out. de 2006


Falo das horas em que o lápis é quase nada. Nada. Ponta quebrada. Mudo a letra, então, não há solução cabendo na solidão da porção maior de nós, doce ou severa. Melodia absurda em meus ouvidos lentos, absolutos. Diria imperdoável.
Não custa falar de algo tão longe e assim tão perto, mesmo sem saber. Ocupa espaço, ocupa dor que devora corpo. Não sobrou tempo naqueles dias intensos e sobra tempo agora.
E esse azul brigando com o cinza do tempo contraditório. Específica, digo: hoje é dia de uma dúvida qualquer, daquelas cercas de arame, pula ou não pula...
Descuidada, desalento também sou eu.
A praia toda a meus pés. E eu: a teus pés.
Orienta-se! Não. Apenas suspiros nestas horas magras. Gastas.
Meu coração continua apertado, deve ser esta firme inexatidão do amor.

Escrito por Leila Andrade 10:10 PM

 
9 de out. de 2006




Embaraçam tantos dias assim escorregando entre dedos.
Lá se foi mais um. Ou sete.
Aquilo tudo por um fio, como na vida.

Uma lança, o ajuste da saudade.
A trança vagarosa, uma teia grossa, grudada em olhos de esquecer.
Olhos de acreditar.
Há porque mistério nas palavras. Há porque fio tecido.
Paradoxo, tudo final, onde havia começo.



Escrito por Leila Andrade 8:47 PM

 
6 de out. de 2006


Algumas pedras cortam, outras adormecem.
O espaço ínfimo, quando sufocado.
Silêncio. Memória do tempo. Sangue em lágrimas.
Do corpo enganado. Quebra. Amplia.
Confidências de dor.
Em arrepios, a pele bebe da água mansa. Lenta.
Vem, o lago é negro. A mente é limpa.
A chance urge. Breve é a vida.

Escrito por Leila Andrade 6:40 PM

 
4 de out. de 2006



As coisas todas belas soltas por aí, deslizando no branco, falam caladas, absolutas.
As coisas todas antigas desaparecem da mente, talvez voltem, nunca se sabe ao certo o tamanho do estrago.
As coisas lixo piscam, conduzem um batalhão de gente, infortúnio, qualidade do caos.


Tudo fechado, apenas o sonho de deitar o verde ao redor. No susto, abre-se a janela, em pontas de pés, escancara-se o que estava reservado: outra vez encantar vida, ferver água que corre dentro. Uma mistura estranha deixa o gosto indecifrável ainda. Fruta do desejo inexplicável. Experimenta amargo, parece doce. Alimenta o amor. Simplesmente é.

O pêlo brilhou ao sol de setembro. A distância estava cada dia menor. A distância agora é uma tempestade no olhar que busca.

É certo que os gatos negros, noturnos, resguardam-se de dores em seu silêncio confiante.
Não custa lembrar: na minha rua, há uma esquina chamada liberdade.

Escrito por Leila Andrade 12:43 PM

 
2 de out. de 2006



“Cidade assim planejada
no chão irreal do sonho
poderá brilhar ao sol
conquanto assim o desejes”...

Continua em www.focando.jor.br

Escrito por Leila Andrade 11:48 PM

 
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