23 de dez. de 2006


Espanto-me pelo que me seduz
da vida inesperada que grita
surpreendente.

Se olho com atenção, talvez o medo surja
e em meus mistérios desmedidamente puros
enverdecidos

alguma natureza permita
o teu portão aberto.

Escrito por Leila Andrade 10:28 PM

 
17 de dez. de 2006



Espécie de folha espalhada
matizes dourados.

Assim é a rua onde piso
coberta de sonhos caídos

devorados pela terra molhada.


A imagem é do meu amigo Sérgio Inácio:
http://minhavisaoeomundo.nafoto.net/

Escrito por Leila Andrade 7:28 PM

 
11 de dez. de 2006



“esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer”
(Paulo Leminski)


Pode chover aqui ao lado. Mísera dor.
Pode clarear o dia. Camuflado amor.

Pause:


E a vida lenta. Breve. Lenta.

Divido espaço. Deito nuvens.
Memorizo tempo. Sorrio misturas.

Pedra adormecida ao luar.

Play:

Acredito para desacreditar melhor.
Sinto alguma chance:
escondida, deturpada, dividida.

Stop:


Limpo a mente. Início de tudo.

Escrito por Leila Andrade 3:11 PM

 
6 de dez. de 2006



"Antes soubesse eu
o que fazer com estrelas na mão.
Se dilacerar-lhes a ponta
ou simplesmente não tocá-las.
Se estão perto cegam meus olhos.
Se estão longe as desejo."
(Hilda Hilst)

O mal de pressentir a paixão...
Não tenho bom senso.
Se te penso, escurece o dia pela falta que fazes em minhas mãos.
Enquanto eu aqui durmo, o que desejas do outro canto da cidade?
Remota e extensa hora, embarco.

Salto no próximo verde ou escolho a areia
e sujo meus pés de sal.
Alucinam-me a falta de paciência, o atraso do amor:
aconteceram, há mil anos, aqueles dias de novembro.

Escrito por Leila Andrade 12:24 AM

 
1 de dez. de 2006



La petit mort
por Wesley Peres


A pequena morte mora em cada movimento silencioso de cada órgão, e as sinapses enredam as distrações para que o homem não saiba disso. Máquina, uma boa metáfora para o corpo, um consolo — algo como acreditar que o sol-posto tem qualquer coisa a ver com a vida. Oxigênio e analogias, tudo o que se precisa para manter de pé a simulação necessária entreposta entre os olhos e o sol ensurdecedor da pequena morte silenciosa. O pensamento mais racional, sua concatenação mais rigorosa é farpa macia diante do calmo abismo de materializar a morte entrededos. Ter entrededos o corpo inerte de alguém inscrito no vento ósseo da memória, a isso chamo tomar consciência, não sináptica, mas consciência carnal, nodular, óssea.

A pequena morte, sal para que o corpo contamine de vísceras o mais abstrato dos deuses.



Texto do meu amigo Wesley Peres:
http://salafernandopessoa.zip.net/index.html

Escrito por Leila Andrade 6:55 AM

 
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