18 de out. de 2006
A alma dele era algo mais que palavras...
De perto, sede incontida, busca incessante. Mesmo quando perdida em beira de rio: desejos de mar. A sua pele, reparem, gritava tanto que o sol reclamava do calor. Era toda mistura de raiva e amor naquelas medidas desproporcionais.
Dizia cantar liberdade, sem preconceitos ou superficialidades.
Terminava por arrasar multidão, sem pestanejar. Do canto da sua casa, dos arredores de sua cidade, delirava, pleno de vícios modernos. Volúvel, sensual, descuidado. Vida intensa. Chuva forte no meio da madrugada. No fundo, certeza de bondade e máscaras.
Eu – apenas um segredo – nada mais.
Não sei de que material era feito o fio fino que corta:
carregava em suas mãos de menino, arma afiada e veloz.
Quando senti o sangue escorrer, já era tarde, pingava sal, sangue e suor. Extensa a dor. Fiquei branca, raiz sendo cortada, uma tempestade me levando. Do barco, do alto rio, vi seu olhar diminuto desaparecendo, desconhecido, nem mais olhava em minha direção. São tantas as outras. Infinitas as outras.
Enganei Caronte, o barqueiro de almas, desci na margem mais próxima.
Caminho, lentamente, de volta ao mar da minha cidade azul.
Ouço uma música:
“Beira rio, beira rio, beira mar: o que se ganha de Ogum só Ogum pode tirar”
Escrito por
Leila Andrade 9:13 AM