30 de out. de 2006
CÉU DE ÚLCERA
Estar sobre a terra,
sob um fecho de abóbada:
o céu aperta.
Por mais que me evole,
a água-de-luz me devolve.
Por mais que desafine,
engaveto os ossos na gordura.
Por mais que afine,
a carne, oca, sufoca.
Por mais que escave o ar,
minha cova se estreita,
estrela.
Sou pouco no fio do osso, porém:
Por mais que eu me reserve,
não sobro em mim.
Por mais que eu puxe o fio,
não termino minha descostura.
Por mais que eu me desgaste,
não me aparo ao desamparo.
Por mais que eu me tolhe,
ainda posso ser colhido.
Estar sob o sol,
uma só nuvem:
o céu sepulta.
Poema: Carlos Besen
http://naselva.com/besen/
Imagem: Leila Lopes
Escrito por
Leila Andrade 6:11 AM